Dia da Espiga
Uma das tradições portuguesas mais antigas e interessantes – o Dia da Espiga – combina crenças pagãs com a festa cristã da Ascensão do Senhor. É o dia em que os portugueses fazem um ramo especial com espigas e flores, que fica como talismã durante todo o ano.
Buquê tradicional para o feriado Dia da Espiga
O Dia da Espiga é uma das tradições portuguesas mais antigas, que conseguiu combinar antigas crenças pagãs com a grande festa cristã da Ascensão do Senhor. Esta festa não tem uma data fixa, pois coincide sempre com a Ascensão do Senhor (Ascensão), ou seja, na quinta-feira que se celebra 40 dias após a Páscoa. Normalmente, ocorre em maio ou no início de junho.
A principal tradição deste dia é a colheita de um ramo de espiga com flores vivas, folhagens e, principalmente, espigas de trigo, ramos de oliveira e videira.
Normalmente, de manhã cedo, as pessoas vão para os campos e para as bermas das estradas para colher estas plantas. Acredita-se que o ramo deve ser colhido exatamente ao meio-dia, porque a essa hora tudo fica parado: os rios não correm, os pássaros não cantam, o pão não cresce, o leite não coalha, o vento não sopra, etc.
De acordo com a tradição, o ramo é pendurado na porta de entrada ou na sala de estar e deixado lá até ao ano seguinte. Ele deve proteger a casa e trazer felicidade, paz, saúde e bem-estar. Em caso de forte tempestade, as antigas crenças aconselham queimar um pequeno pedaço do ramo na lareira ou simplesmente no fogo para afastar os relâmpagos e os trovões.
A origem do Dia da Espiga remonta aos tempos pagãos, quando as pessoas honravam a fertilidade da terra e celebravam o início da primavera, mas depois foi revivida no cristianismo.
Hoje, esta tradição é mais comum nas regiões rurais e centrais de Portugal. No entanto, mesmo nas grandes cidades, como Lisboa, é possível ver vendedores ambulantes a oferecer buquês prontos, tornando esta antiga tradição acessível a todos hoje em dia.
Em 2025, este feriado foi celebrado a 29 de maio. No próximo ano, o Dia da Espiga será celebrado na quinta-feira, 14 de maio.

Dia da Espiga
Origem histórica do feriado
O feriado Dia da Espiga tem, acima de tudo, fortes raízes pagãs e agrárias, pois está relacionado com a celebração da primavera e da fertilidade da terra. Considera-se que este ritual é um eco dos antigos festivais em honra da deusa da natureza e da fertilidade Flora, ainda entre os romanos, ou da deusa da agricultura Deméter, entre os gregos.
Entre os pagãos, este costume surgiu do ritual de bênção dos primeiros frutos do ano. Para uma sociedade agrária, que dependia totalmente da colheita, todas as festas dedicadas à natureza e à colheita eram de vital importância. Por isso, inicialmente, o Dia da Espiga era um ritual popular que simbolizava a despedida da primavera e um apelo à riqueza e à abundância que o verão traz.
Com a chegada do cristianismo, muitos rituais pagãos foram adaptados à nova religião. Foi o que aconteceu com o Dia da Espiga. Ele foi combinado com a festa cristã da Ascensão do Senhor (Ascensão), que é celebrada 40 dias após a Páscoa.
Essa combinação era muito lógica: a festa da Ascensão simboliza a ascensão de Jesus Cristo ao céu, e o Dia da Espiga simboliza a ascensão espiritual e terrena através da futura colheita. Assim, o cristianismo deu ao antigo ritual agrícola um certo significado religioso. Até 1952, este dia era feriado nacional em Portugal, o que realçava a sua importância tanto para a igreja como para o povo.
Espiga – talismã do ano
O principal símbolo do feriado – o bouquet Espiga – é colhido nos campos, prados e bermas, onde crescem as flores e ervas necessárias. A Espiga tem uma composição bem definida, onde cada elemento carrega um simbolismo profundo, preservado desde os tempos pagãos. Assim, o tradicional bouquet português Espiga é composto por:
- Espigas de trigo (espiga), que são o componente mais importante e simbolizam o pão, a abundância e a fertilidade. A Espiga no bouquet simboliza uma boa colheita.
- Ramos de oliveira, como símbolo da paz, da luz e da bênção divina, que são um eco tanto das histórias bíblicas (pombo com um ramo no bico) como do simbolismo geral do bem-estar. Além disso, para que nunca falte a luz divina, pois no passado as pessoas iluminavam as suas casas com candeeiros a óleo.
- Flores – malmequeres, margaridas e papoilas. As duas primeiras flores simbolizam riqueza, ouro, ou seja, o bem-estar financeiro da família durante todo o ano, e as papoilas simbolizam o amor.
- Alecrim ou samambaia, que significam saúde e força para todos os membros da família.
- Ramos de videira, como símbolo do vinho e da alegria, atributos indissociáveis da vida dos portugueses.
A propósito, embora o Dia da Espiga seja uma das tradições mais autênticas e duradouras de Portugal, existem pequenas diferenças regionais na celebração deste dia. Elas refletem a diversidade da natureza portuguesa e as crenças locais.
E, embora a espiga de trigo e o ramo de oliveira sejam elementos invariáveis do bouquet em todo o país, os outros componentes podem variar de acordo com a região, especialmente no que diz respeito às flores silvestres.
Símbolo floral da colheita no Dia da Espiga
Por exemplo, em regiões onde predominam as florestas, em vez do alecrim, utiliza-se frequentemente o feto, uma vez que é mais comum. Enquanto as papoilas e as margaridas são universais, algumas regiões podem adicionar outras flores silvestres, como a lavanda ou a hortelã selvagem, que simbolizam a proteção contra os maus espíritos.
Em algumas regiões, adicionam-se ao bouquet um ramo de figo como sinal de desejo de um ano doce e frutífero, bem como uma folha de louro como símbolo de vitória e sucesso.
Assim, o bouquet espiga continua a ser uma tradição viva entre a maioria dos portugueses, pois reflete não só os valores nacionais, mas também as particularidades locais, tornando cada bouquet um amuleto único para a família.
A propósito, as canções e danças folclóricas fazem parte de muitas festas portuguesas, e os saltos sobre a fogueira e a oferta de manjerico com poemas são atributos marcantes de outra festa famosa: Festas de São João. O Dia da Espiga é uma festa mais tranquila e familiar, centrada em símbolos autênticos e na atração de prosperidade para todo o ano.
Onde em Portugal ainda se celebra o Dia da Espiga
A tradição de celebrar o Dia da Espiga ainda está viva nas regiões centrais e meridionais de Portugal, como o Alentejo e algumas partes da região Centro. Isto deve-se ao facto de estas regiões ainda serem fortemente influenciadas pela agricultura e, por isso, para os seus habitantes, o ramo da Espiga não é apenas um elemento decorativo, mas um símbolo ligado ao seu quotidiano e bem-estar. Ao colherem o ramo, invocam as forças da natureza para lhes conceder uma colheita abundante e prosperidade durante todo o ano.
Em particular, no Algarve, a pérola do sul de Portugal, a festa ainda tem um caráter poético muito pronunciado. Até hoje, conserva-se um antigo ditado sobre este dia:
Na Quinta-feira da Ascensão, nem os passarinhos bolem nos ninhos.
Nas zonas rurais, também se mantém a tradição das caminhadas matinais pelos campos para colher ramos, embora nas grandes cidades ela tenha quase desaparecido.
Nas aldeias do sul do Alentejo, a festa manteve o seu significado agrícola: as espigas são colhidas com a esperança de uma boa colheita, complementadas com ervas e flores silvestres e, em seguida, penduradas de cabeça para baixo na porta, para que haja sempre pão e abundância na casa. Em algumas aldeias ainda se realizam cantos populares, embora esta tradição esteja a desaparecer gradualmente.
No norte de Portugal, nomeadamente em Minho, Trás-os-Montes e outras regiões montanhosas, a festa ainda mantém o seu caráter espiritual: as pessoas vão às capelas ou fontes para consagrar os ramos, aos quais muitas vezes acrescentam folhas de louro como símbolo de vitória e proteção. Em algumas aldeias, mantêm-se os rituais de purificação das casas, consagrando-as com água da fonte recolhida ao amanhecer.
Buquê português em homenagem ao Dia da Espiga
Por outro lado, nas zonas urbanizadas e costeiras, como Lisboa e O Porto (as duas maiores cidades de Portugal), a tradição está a perder gradualmente o seu significado original. Ao mesmo tempo, mesmo nas cidades, a tradição não desapareceu completamente, mas adaptou-se. Por exemplo, nos mercados e nas lojas de flores, é possível encontrar buquês prontos, o que permite aos moradores urbanos manter a tradição, mesmo sem ter a possibilidade de montar um buquê com as próprias mãos.
Conclusão
Apesar da vida dinâmica das grandes cidades, Portugal mantém inúmeras tradições populares e festas que combinam natureza, espiritualidade e memória cultural do povo. O Dia da Espiga é uma das poucas celebrações que, embora não seja tão popular como outras festas, mantém tradições e simbolismos autênticos em diferentes regiões.
FAQ
Quando se celebra o Dia da Espiga?
O Dia da Espiga não tem uma data fixa. Ele sempre cai na Ascensão do Senhor, que é comemorada na quinta-feira, 40 dias após a Páscoa.
O que é o ramo da espiga e o que simboliza?
A espiga é o elemento central da festa, simbolizando o pão, a fertilidade e a prosperidade na casa durante todo o ano, e é composta por espigas de trigo, ramos de oliveira, folhagem e flores.
Por que a colheita de um bouquet especial neste dia é considerada um talismã para o ano?
Desde os tempos antigos, essas composições vegetais eram usadas como amuletos que protegiam contra forças malignas, infortúnios e doenças, além de trazerem sorte e prosperidade para o lar.
Quando e como colher corretamente o bouquet?
Por tradição, o bouquet deve ser colhido exatamente ao meio-dia da Ascensão. Acredita-se que é nesse momento que a natureza lhe confere um poder especial. O bouquet colhido é pendurado na porta de entrada ou na sala de estar, onde fica durante o ano.
Os buquês diferem em diferentes regiões?
flores silvestres. Embora os elementos-chave (trigo e azeite) sejam obrigatórios, outras plantas podem ser adicionadas de acordo com a flora local.





