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Dia de Todos os Santos

by Rodrigo Santos

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Dia de Todos os Santos

No dia 1 de novembro, os católicos de todo o mundo celebram um dos maiores feriados do calendário religioso, o Dia de Todos os Santos. Este é um feriado cristão, um dia de recordação para aqueles que morreram pela fé cristã desde os tempos antigos. O termo “todos os santos” inclui tanto os santos canonizados como aqueles que permaneceram desconhecidos durante a sua vida e morreram pela sua fé. O Dia de Todos os Santos é um dos feriados religiosos mais importantes da Igreja Católica, um grau que só é atribuído a 17 outras grandes celebrações religiosas do ano.

Em Portugal, o Dia de Todos os Santos é feriado. Anteriormente, este dia deixou de ser um feriado nacional em 2013, mas em 2016, o governo restabeleceu-o a nível estatal.

História do feriado

Em geral, existe uma versão de que a celebração do Dia de Todos os Santos tem as suas raízes nos costumes pagãos, quando as pessoas honravam os seus antepassados e deuses. Atualmente, o Dia de Todos os Santos está associado a visitas a sepulturas, levando flores e orações pelas almas dos defuntos, bem como a uma mesa festiva onde se reúne toda a família.

A origem do Dia de Todos os Santos

Com o advento do cristianismo e o aumento do número dos seus adeptos, os crentes começaram a integrar as tradições dos feriados pagãos, transformando-os em feriados religiosos com muitas tradições preservadas. Por exemplo, nas culturas celtas, nomeadamente na Irlanda, o Samhain era celebrado nesta altura, marcando o fim das colheitas e o início do inverno, e estava também associado à veneração dos mortos. Aliás, Samhain, celebrado pelos Celtas entre 31 de outubro e 1 de novembro, significa “o fim do verão”. Em irlandês, que deriva do celta, samhradh significa verão. Curiosamente, o mês de novembro é chamado mí na Samhna em irlandês.

Os cristãos ingleses e irlandeses foram os primeiros a celebrar o Dia de Todos os Santos a 1 de novembro, tendo depois Roma decidido adotar esta data. As tradições pagãs do Samhain reflectem-se no feriado do Dia das Bruxas, celebrado na véspera. O Dia de Todos os Santos começou a ser celebrado regularmente depois de o Papa Bonifácio IV ter consagrado uma igreja romana em honra de todos os deuses - o Panteão de Maria e de todos os mártires - em maio de 609 (ou 610).

No entanto, quase um século mais tarde, a data foi alterada para novembro, quando o Papa Gregório III (731-741) consagrou uma capela em Roma a todos os santos e ordenou que fossem honrados no dia 1 de novembro. De acordo com uma versão, isto pode ter sido devido ao facto de um feriado semelhante, o Samhain, ter sido celebrado no mesmo dia - 1 de novembro - em Inglaterra e na Irlanda durante muitos anos. Assim, a Igreja Católica destes países tentou “impor” um novo feriado aos antigos costumes, acrescentando um feriado cristão ao calendário no mesmo dia que o Samhain.

Assim, em 835, o Papa Gregório IV fez do dia 1 de novembro um feriado comum a toda a Igreja Católica, em honra de Todos os Santos, e Carlos Magno ordenou a celebração deste feriado em todo o Império Franco. A celebração espalhou-se por toda a Europa e os diferentes países desenvolveram as suas próprias tradições.

Atualmente, em vários países do mundo, o Dia de Todos os Santos católico é um feriado oficial. A propósito, a este feriado seguiu-se o Dia de Todas as Almas ou o Dia dos Fiéis Defuntos, a 2 de novembro.

Celebração do Dia de Todos os Santos

Dia de Todos os Santos

Foto da Internet

Tradições e costumes do Dia de Todos os Santos

Ao longo dos séculos, esta festa adquiriu numerosos rituais de carácter religioso, associativo e solene. Alguns costumes pertencem ao passado, outros são ainda hoje preservados e estão a surgir novas tradições que até os jovens seguem.

A vertente religiosa e os rituais mais importantes

Em Portugal, o Dia de Todos os Santos está imbuído de um profundo significado religioso. É um dia em que os sinos das igrejas tocam em todo o país, chamando os crentes à oração. São celebradas missas solenes nas igrejas em memória dos defuntos.

Neste dia, os familiares deslocam-se ao cemitério, onde as memórias dos falecidos ganham vida nos seus corações. Estes gestos simples, mas profundos, enchem o ambiente festivo de amor e de gratidão pelos momentos passados em conjunto, dando a este dia um sentido e um significado especiais.

Visitar um cemitério

O Dia de Todos os Santos não é apenas um feriado religioso, é um momento especial em que toda a família se reúne à volta da mesa e se partilham histórias passadas de geração em geração. É também um dia para refletir sobre a espiritualidade, incentivando cada um de nós a pensar no sentido da vida.

Neste dia, os portugueses reúnem-se nos cemitérios para visitar as campas dos seus familiares e amigos. Levam flores, sobretudo crisântemos, que simbolizam a memória dos seus entes queridos. Além disso, acendem velas nas campas para simbolizar a esperança no descanso eterno das almas dos falecidos.

A propósito, muitos cemitérios em Portugal têm belas esculturas e monumentos em memória dos defuntos. De um modo geral, a arte funerária e sacra, que inclui elegantes estátuas, magníficas lápides e mausoléus monumentais, está bastante desenvolvida em Portugal e é uma forma de expressão artística e de homenagem aos que já faleceram.

Um momento importante do Dia de Todos os Santos para os fiéis é a participação numa missa especial em honra dos defuntos para rezar e recordar os seus entes queridos. Muitas famílias fazem um ato de caridade, ajudando os pobres ou aqueles que precisam de ajuda, alimentos ou apoio.

A propósito, o Dia de Todas as Almas, também conhecido como Dia de Finados ou Dia dos Mortos, era originalmente celebrado a 2 de novembro, mas dado que o feriado nacional cai a 1 de novembro, tornou-se um costume celebrar ambas as tradições no mesmo dia.

Celebração do Dia de Todos os Santos

Día de Todos los Santos

Foto da Internet

Pão por Deus

Nalgumas zonas do país, há tradições que não têm qualquer base religiosa. Uma delas é pedir o Pão por Deus. Acredita-se que a origem desta tradição remonta a 1755, altura em que Lisboa, assim como muitas regiões do sul, sofreu uma das maiores catástrofes naturais da história da humanidade.

Foi no dia 1 de novembro de 1755, quando quase toda a população se encontrava nas igrejas, acendendo velas e fazendo orações no Dia de Todos os Santos, que ocorreu um terramoto de magnitude 8,5-9,0 na escala de Richter. Em apenas seis minutos, o centro de Lisboa ficou praticamente destruído, tendo sido coberto por uma enorme onda de água do mar. As velas provocaram numerosos incêndios, que só abrandaram ao longo de vários dias e destruíram o que o terramoto e o tsunami não tinham destruído.

Mais de 100.000 lisboetas morreram sob os escombros das igrejas, dos edifícios, das cheias e dos incêndios, e os restantes ficaram sem casa e sem meios de sobrevivência. A pobreza e a fome assolaram a capital e as regiões vizinhas. Em busca de qualquer alimento, os pais pediam aos filhos mais velhos que percorressem as ruas destruídas e pedissem Pão por Deus, pois não havia nada para comer. Embora hoje em dia não seja necessário, a tradição não se perdeu e ainda há regiões onde as crianças saem no dia 1 de novembro para pedir o “pão por Deus”.

Atualmente, quando as crianças pedem o Pão por Deus, recitam uma poesia e recebem em troca pão, doces, frutos secos, etc. Os versos do poema são os seguintes

Pão por Deus, Fiel de Deus, Bolinho no saco, Andais com Deus.

Aliás, nas zonas rurais portuguesas, continua a ser costume confecionar o “Pão por Deus” sob a forma de pequenos bolos em forma de coração, estrela ou flor, decorados com açúcar e canela, que são depois distribuídos às crianças e aos mendigos, simbolizando a bondade, a humanidade e a misericórdia. Em algumas regiões de Portugal, é também costume os padrinhos oferecerem aos afilhados um bolo de Santoro.

Dia de Todos os Santos, tradição do Pão por Deus

Tradição do Pão por Deus

Foto da Internet

Outras tradições nas diferentes regiões do país

Portugal é um país bastante grande, com muitas regiões, onde os costumes e rituais podem diferir ligeiramente, assim como o património cultural, os dialectos, o vestuário, etc. Aqui estão algumas das tradições esquecidas e existentes dos portugueses em diferentes partes do país.

Pau das Almas

O Pau das Almas é uma tradição única relacionada com a comemoração dos mortos, que é celebrada em Portugal, especialmente no norte do país, em Bragança. A tradição tem as suas raízes em crenças pagãs e costumes cristãos que se fundiram ao longo do tempo. A essência da tradição consistia no facto de, na manhã do dia de Todos os Santos, os rapazes e jovens se reunirem para cortar lenha para vender no adro da igreja. O produto da venda era utilizado no dia seguinte (Dia de Todos os Santos) para celebrar uma missa em memória das almas do Purgatório. Atualmente, o costume do Pau das Almas está em desuso e apenas se encontra em fontes históricas.

Segundo outra versão, o elemento central da tradição é a confeção de uma “árvore” (pau) especial, que era decorada com objectos simbólicos como fitas, flores e fotografias dos defuntos. Esta árvore simbolizava a vida, a memória e a ligação aos antepassados.

Nalgumas aldeias de Bragança, havia a tradição da “procissão das almas” - uma procissão sinistra que começava à meia-noite no adro da igreja e passava pelas ruas da cidade.

Fogueiras e castanhas

Embora as castanhas assadas estejam normalmente associadas ao dia de São Martinho, que se celebra a 11 de novembro, diz-se que a festa dos Magustos teve origem no dia de Todos os Santos. Esta afirmação é corroborada pelo facto de, antigamente, sobretudo no interior do país, se fazerem enormes fogueiras nos dias 1 e 11 de novembro para que as pessoas se pudessem aquecer e assar castanhas enquanto bebiam vinho doce e barato da Jeropiga.

As fogueiras dos santos ou Fogueiras dos Santos eram acesas no centro das cidades e aldeias, as pessoas juntavam-se à volta delas, comiam castanhas, cantavam e faziam jogos, mas sem dançar, pois era proibido no Dia de Todos os Santos.

Outra tradição interessante, que já pertence ao passado, existia em Barqueiros, no concelho de Barcelos. Aí, à meia-noite de 1 para 2 de novembro, era posta uma mesa com castanhas para os familiares falecidos comerem durante a noite, depois disso, não se podia tocar nem comer a comida porque estaria coberta de “saliva dos mortos”.

Fogueiras e castanhas, Dia de Todos os Santos

Fogueiras e castanhas

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Bolinhos, Bolinhós

A região de Coimbra também tinha os seus próprios costumes interessantes, incluindo uma tradição semelhante ao Pão por Deus, mas chamada Bolinhos, Bolinhós.

Na véspera do Dia de Todos os Santos, as crianças mais pequenas colocavam velas em caixas de cartão cortadas em formas de fantasia (algo como as tradicionais abóboras do Halloween) e cantavam:

Bolinhos e bolinhos Para mim e para vós, Para dar aos finados Que estão mortos e enterrados.

Por isso, recebiam doces e frutas e voltavam felizes para casa.

Caspíades

Na ilha Terceira, nos Açores, durante as celebrações, as crianças recebem caspiades, bolos com cerca de 12 centímetros de diâmetro em forma de topo de caveira, que simbolizam a forma como os mortos são venerados. Além disso, nos Açores, era costume ter em casa, no Dia de Todos os Santos, uma panela de milho cozido e castanhas cozidas. Mais tarde, surgiram os rebuçados e os doces feitos com calda de açúcar e vinagre.

Pratos festivos do Dia de Todos os Santos

O Dia de Todos os Santos em Portugal não é apenas uma altura para honrar a memória dos mortos, mas também um feriado que se impregna dos aromas dos pratos tradicionais. Neste dia, as mesas portuguesas enchem-se de uma variedade de delícias gastronómicas que encantam o olhar e o paladar.

O prato principal deste feriado é o Pão por Deus ,um pão especial que simboliza as dádivas para as almas dos mortos. Muitas vezes decorado com nozes e frutos secos, este pão tem um sabor doce e uma textura macia. É servido com café aromático ou vinho quente, o que confere um aconchego especial à mesa festiva.

Tradicional Pão para Deus

Pão por Deus

Foto da Internet

As castanhas assadas são um petisco muito apreciado no Dia de Todos os Santos, acompanhadas de um copo de Jeropiga. São cozinhadas em lume brando, o que lhes confere um sabor único e, para os turistas, é um verdadeiro exotismo nacional.

Para sobremesa, os portugueses apreciam o Bolo de Pão, um pão doce feito com mel, canela e nozes, remanescente das tradições familiares, esta sobremesa tem um sabor delicado que traz boas recordações da infância.

Tradicional Bolo de Pão

Bolo de Pão

Foto da Internet

No entanto, as diferentes regiões do país têm as suas próprias tradições culinárias. Em particular, nas regiões do sul, a Sopa de Cação é uma sopa de tubarão servida com pão fresco na mesa festiva. Também se preparam bolos doces Azevias recheados com creme de feijão e polvilhados com açúcar.

Na zona centro do país, a Sopa da Pedra é uma sopa popular feita de carne, feijão e legumes que pode ser encontrada nas feiras de outono durante o feriado. Trata-se de uma sopa tradicional portuguesa que tem uma história interessante: o nome traduz-se por “sopa da pedra” e, segundo a lenda, a receita teve origem na história de um viajante que fez a sopa a partir de uma simples pedra. Cada região pode ter as suas próprias variações desta sopa, acrescentando diferentes tipos de carne ou legumes, mas a essência permanece a mesma: é uma sopa deliciosa e rica que aquece a alma na estação fria. Aliás, algumas receitas pedem uma pedra verdadeira, que é adicionada à sopa como símbolo de simplicidade.

Sopa da Pedra tradicional

Sopa da Pedra

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Nos Açores, as Queijadas são preparadas neste dia - pequenas e saborosas tartes de requeijão que têm um sabor delicado e são frequentemente servidas com chá como sobremesa. E na Madeira, a sobremesa de maracujá é uma das preferidas, acrescentando sabores vivos à mesa festiva.

No entanto, a refeição solene é preenchida não só com pratos, mas também com tradições familiares que são transmitidas de geração em geração. Embora este dia seja celebrado em memória dos que já faleceram, está repleto de calor, amor e união, o que o torna especial para todas as famílias portuguesas.

Queijadas, Dia de Todos os Santos

Queijadas

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Se viajar pelo país como turista por esta altura, pode provar a comida tradicional do Dia de Todos os Santos em muitos locais diferentes, como os restaurantes locais (Tascas).

As pequenas cidades e aldeias têm muitas vezes tabernas locais que servem pratos autênticos, basta pedir Pão por Deus ou Azevias. Para provar Queijadas e Bolo de Noz, visite as pastelarias locais. Nas cidades maiores, como Lisboa ou Porto, procure os restaurantes regionais para uma vasta seleção de pratos festivos autênticos.

Além disso, em outubro e novembro, muitas cidades organizam feiras onde pode encontrar pratos tradicionais como as Castanhas Assadas e outras iguarias da época. Visite também os mercados locais onde pode comprar produtos frescos e pratos prontos a comer baseados em receitas tradicionais da época.

A propósito, muitas agências de viagens oferecem passeios gastronómicos onde pode experimentar pratos tradicionais, incluindo os preparados para o Dia de Todos os Santos. Estes locais permitem-lhe não só desfrutar de comida deliciosa, mas também sentir a atmosfera das tradições portuguesas.

Factos interessantes sobre o Dia de Todos os Santos

  • O Dia de Todos os Santos foi celebrado pela primeira vez em memória de todos os cristãos mortos pelos romanos.
  • Embora o Dia de Todos os Santos e o Halloween sejam celebrados no mesmo dia, em Portugal, a tónica é colocada na homenagem aos santos e aos mortos e não no entretenimento. Este feriado não tem um aspeto comercial como o Halloween.
  • Só as crianças com menos de 10 anos podiam pedir “pão por Deus”. As crianças só podiam andar na rua a pedir o Pão por Deus até à hora do almoço (à tarde, se uma criança batesse a uma porta, a pessoa que a abrisse podia dar-lhe uma bofetada e mandá-la embora).
  • Em 2012, devido à crise, o governo reduziu o número de feriados religiosos, incluindo o dia 1 de novembro. Em 2016, em acordo com Santa Fé, o governo restaurou o feriado nacional do Dia de Todos os Santos.
  • Antigamente, este dia estava sujeito a algumas restrições. Por exemplo, não se pode praguejar, amaldiçoar ou ter conflitos durante o feriado. Não eram permitidos casamentos ou celebrações ruidosas.
  • Também era proibido trabalhar arduamente, coser, bordar, lavar roupa ou limpar. Embora a proibição não seja rigorosa, o consumo excessivo de álcool é considerado inadequado. O dia exige respeito, não diversão.
  • Os crisântemos, que são frequentemente levados para as campas, são considerados um símbolo de recordação e de luto. São especialmente populares neste dia.